
P o é t i c a s s o n o r a s
Nesta seção, apresentam-se faixas da gravação autoral de alguns poemas dos livros Língua (2004) e Guerra (inédito), registradas em estúdio nos meses de dezembro de 2011 e janeiro de 2012, em Firenze, na Itália, sob a direção de Francesca Della Monica.

RUÍDOS DE GUERRA. Fotografia: João Castilho
"[...] guerra sou eu
guerra é você
guerra é de quem
de guerra for capaz
guerra é assunto
importante demais
para ser deixado
na mão dos generais."
Paulo Leminski
RUÍDOS DE GUERRA
1. Heterotopias de mim
. Divã
. Teatro
. Amizade
. Livro
2. Correspondências de guerra
. do Porto
. Heterografias de mim
. Pós-guerra
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LÍNGUA-OUVIDO. Fotografia: João Castilho
"[...] Sei às vezes que o corpo é uma severa
massa oca, com dois orifícios
nos extremos:
a boca, e aos pés a dança com a coroa de [labaredas
– a cratera de uma estrela.
E que me atravessa um protoplasma
primitivo,
uma electricidade do universo,
uma força.
E por esse canal calcinado sai
um ruído rítmico, uma fremente
desarrumação do ar, o verbo sibilante
vento:
o som onde começa tudo – o som.
Completamente vivo."
Herberto Helder
LÍNGUA-OUVIDO
4. língua-pedra
. testamento
. confissão
. expressivo
. alógica
5. tropofagia
. catequização
. gemiótica
. letras para uma oração
. alterbiográfico
. nascimento
6. alíngua
. à procura do vento num jardim d’agosto
. tiros do alto da escada
. enquanto isso no teatro da justiça... . sétimo selo, mar, posfácio e atores
. deux roussinoles
7. do futebol
. cartão amarelo
. cartão vermelho
. cartão verde
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8. INSTALAÇÃO POÉTICA no Museu do Mineirão, sala "Futebol e outras artes".
Concepção e direção: Gustavo Cerqueira Guimarães
Sonorização: Fabiano Fonseca
Poetas: Adriana Versiani, Adriano Menezes, Affonso Ávila (por Rodolfo Vaz), Ana Martins Marques, Carlos Barroso, Jovino Machado, Kiko Ferreira, Renato Negrão, Rogério Barbosa, Vera Casa Nova e Wagner Moreira.
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Sobre o Guerra:
Gostei dos poemas, Gustavo (um bastão de combate viking, não é?), principalmente por que eles trabalham com metáforas bélicas com muita maestria. Lembram às vezes uma certa grandiosidade de Allen Ginsberg. Na tua poesia, às vezes, o épico quer comer o lírico, mas não consegue. Que bom...
João Gilberto Noll
escritor
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Sobre o Língua:
O 'novo poeta’ implode a velha fórmula, exatamente, quando não repete, ad infinitum, estabelecidas propostas e poéticas. Um exemplo dessa implosão é a poesia do lajinhense Gustavo Cerqueira Guimarães. Nada está plenamente estabelecido. As linguagens, os estilos, as influências, os paideumas dialogam multidirecionalmente. Há um pouco de tudo. Um remix de linguagens: carmen figuratum, neologismo, palavra-puxa-palavra, palavra-valise, poesia concreta, poesia sonora, teatro grego, technopaignion, poesia portuguesa, Adélia Prado, Arnaldo Antunes e Carlos Drummond de Andrade.
Marcelo Dolabela
poeta e pesquisador
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Aliciante, lambeu-me a face, penetrou nos ouvidos, desenhou com saliva o contorno dos olhos. Abusada, insinuou-se em minha boca até que eu, sem recuo, indagasse: qual é o gosto desta língua?
escrever transpassa-me
Um gosto de arrebatamento? Esta língua está cravada no papel, que pulsa esfuziante, e entrega sua quadratura a todo tipo de sinuosidade. Ela nem quer saber se é poderosa ou frágil. Só siderar-se na busca do gozo. Esta escrita exorta. Exprimir-se é imolar-se, mas gloriosamente, diz a língua-faca, e em seguida, criança adorável, sarcástica ou não, ri de si mesma.
meu dia estava escrito
Sabor de miudezas? A língua também é doméstica, ama os alentos prosaicos, de onde, eventualmente, sem qualquer alarde, brotam minúsculas surpresas, como os primeiros botões de rosa no jardim quotidiano. O papel não é nada mais que uma parte do corpo, meu ou seu corpo, capaz de cantarolar, percutir a banalidade da vida.
o verbo envenena o mito
A língua tem gosto de corte? Sim, sabe maldizer outras línguas, sabe latejar. Retalha sem piedade o papel que impõe as histórias que, imemoriais, pretendem-se fado. Língua insolente, transpira a graciosa inocência de acreditar que qualquer um, bicho pedra gente, pode criar as próprias narrativas, e existir através delas.
meu conto tem algo maior que eu
Sabor do que se transfigura? Nomes, sexos, biografias, afetos? É de vastidão o gosto desta língua quando se deixa, generosamente, sugar? No céu aberto da boca, o que captam as papilas gustativas não é o movimento da palavra rumo a algo mais etéreo e incomensuravelmente mais belo: música?
orgulho daquilo que não sei
Esta língua me atordoa, me encanta, me rende. Com doçura, furor, a estranheza e as promessas: de um beijo.
Luis Alberto Brandão
escritor e prof. de literatura da UFMG
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Dispersos:
"Texto". Em Tese. UFMG, Belo Horizonte, 2015.
"Aqueles dois gostavam de futebol". In: ROSA, Mário Alex. Pelada poética. Belo Horizonte: Scriptum, 2014.
"Cartão amarelo" e "Cartão vermelho" (díptico). Instalação poética (verbivocovisual) / Museu do Mineirão. Belo Horizonte: Minas Arena, 2014.
"RUÍDOS: exercício de leitura/escrita". Apêndice da Tese de Doutorado A espacialização do sujeito em João Gilberto Noll e Al Berto. Suporte: plaquete (8 págs., tiragem: 12 exemplares). Belo Horizonte: Pós-Lit, 28 fev. 2013.
"11",“15”, “19”, “Cancro” e “Testo” - da série "Diário de Guerra". Poemas inéditos traduzido para o italiano por Lydia del Devoto. Le Reti di Dedalus - Traducendo Mondi. Roma: Rivista on line del Sindacato Nazionale Scrittori, Ano VII, fev. 2012.
“Confissão” e "do futebol" - tríptico composto por "cartão amarelo", "cartão vermelho" e "cartão verde" (vídeo). Poemas em forma de plaquete em circulação nos ônibus de Belo Horizonte: "Leitura para todos" do núcleo de estudos BH-Trans e A tela e o texto/UFMG, 2005.
“Gemiótica”, “Transpassado”, “Transcriação”, “Expressivo” e “Testamento” integram a antologia Portuguesia: Minas entre os povos da mesma língua, organizada por Wilmar Silva. Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Cultura / MG, 2009.
“Deux Roussinoles” e “Transcriação” (díptico) integram a Antologia Terças Poéticas, de Wilmar Silva. Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Cultura/ MG e Suplemento Literário e Fundação Clóvis Salgado, 2006.